domingo, 26 de julho de 2009

Nasci na época errada. Cresci acreditando que “ser o melhor” naquilo que se faz nos dá o direito quase que garantido de uma boa carreira profissional e reconhecimento social. Tive exemplos disso na minha família, de um avó que estudou admistração a noite enquanto trabalhava de dia, aprendeu inglês pelo curso de banquinha da editora Globo e conseguiu virar um excelente vendedor de soja para o exterior. De outro, que como enfermeiro salvou a vida de muita gente, conseguindo muitos amigos e porque não dizer também admiradores, que foi grata a ele e o lembra com carinho até hoje. Ah hoje... Essas receitas de sucesso não funcionam mais e estão nos levando ao caminho inverso: o da exploração e da insatisfação.

Insatisfação é uma palavra que se quer conhecemos quando estamos na época em que todos perguntam o queremos ser quando crescermos. O tempo todo pensei que precisava apenas de uma mesa num escritório, meu computador e que se vez o outra fosse reconhecida pelos meus textos já seria o suficiente. Na escola era assim, havia de ser assim no futuro também. Acreditava que com o tempo e o reconhecimento a remuneração e o sucesso viriam naturalmente. Ledo engano, nem a mesa apareceu, apenas a baia.

A baia faz parte do novo conceito de trabalho do século XXI, onde se acredita que se o grupo trabalha no mesmo ambiente a capacidade produtiva aumenta. Economiza-se tempo com as indas e vindas às salas e aos escritórios, pois basta esticarmos a cabeça para esclarecer alguma dúvida com o colega ao lado ou o de trás. Começaram a ser utilizadas nas redações dos jornais e passaram a constituir o layout mais adotado das grandes companhias. Ah, as grandes companhias, outra lenda que escutei na faculdade: Trabalhar em uma empresa de grande porte aumenta a chance de crescimento profissional, e se for uma multinacional melhor ainda, pois existe a chance de ir trabalhar fora do país.

Eis o significado real do esforço, da baia e da multinacional: tudo isso foi criado para você trabalhar mais, e utilizando do trocadilho mais óbvio, trabalhar feito um cavalo. Crescemos acreditando que senso de responsabilidade, a capacidade de superação ao cumprir tarefas, seria algo valorizado, mas a verdade é que encaramos isso como rotina diária e o prêmio que recebemos é sempre o mesmo, mais trabalho. A baia facilita a comunicação e também a visão do seu chefe do que você está fazendo, enquanto que a multinacional significa que você nunca vai conseguir falar com o “chefão” para pedir uma promoção. Os elogios surgem, mas sempre vem carregados de uma frase típica: “Você fez um ótimo trabalho e por isso temos um novo desafio que com certeza você irá tirar de letra”. Nas entrelinhas: “Vamos precisar que trabalhe todo dia até mais tarde e nos finais de semana também”.

Diante desse cenário, não é de se admirar que muitos deixaram para trás a responsabilidade e o compromisso, e adotaram a lei do menor esforço. Com os valores invertidos parece não valer mais a pena seguir a receita de sucesso para dormir com a satisfação da missão cumprida, pois ao acordar você sabe que ontem será esquecido e hoje só tem mais “serviço”.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A culpa é nossa!

Quando eu digo que brasileiro merece o governo que tem, vejo caras se retorcendo em sinal de desaprovação. Pessoas que abrem suas bocas e dizem em alto e bom tom que não votaram no Presidente atual e acham que isso os livra de todo o pecado original do sistema.

Quando vejo meia dúzia de pessoas se mobilizarem em pequenos protestos, digo que elas também são culpadas pelo fracasso. Porque na hora de chamar para a balada o cara inventa mil bons motivos para convencer o amigo, mas para coisa séria acha que um convite apenas basta e não usa dos argumentos que dispõe. Toda aquela conversa via Twitter sobre sair às ruas contra o Sarney, na prática virou motivo para piada. Mas, se fosse algo envolvendo festa, música e fantasias aí sim teria batido recorde de público, tendo como o exemplo a famosa Parada do Orgulho LGBT. O negócio aqui é festa, o motivo pouco importa, o importante é a bagunça.

O brasileiro tem a comodidade tão enraizada que prefere criar uma infinidade de desculpas para justificar o adiamento das mudanças do País do que de fato fazer algo. Gostamos de apontar culpados e nada fazer para puni-los, já que a justiça é lenta, as leis são dúbias e a imunidade parlamentar existe. As CPIs comprovam isso e ainda servem como desculpa para os deputados e senadores “mostrarem” serviço. Pagamos os salários deles, sustentamos seus roubos, e apoiamos a abertura de CPIs que sabemos que não vão dar em nada, em quase nada. Eles saem de campo, candidatam-se novamente e voltam ao jogo. A imprensa dá a visibilidade que os políticos tanto querem e os jornalistas acham que estão colaborando ao transformarem os fatos em escândalos, mas a verdade é que isso é muito pouco e logo que surge outra CPI ninguém fica sabendo o que deu a anterior.

E como o jornalista faz parte de um povo privilegiado por ter acesso aos meios de comunicação, tem uma parcela de culpa maior ainda. Vivem na terra da fantasia da imparcialidade e com isso fazem do jornalismo aquela mesmice, que não ajuda ninguém a formar opinião alguma, e ainda serve de holofote para a cobertura de algum super projeto que já deveria ter sido concluído há muito tempo. O único quadro jornalístico que de fato incomoda e procura resolver algum problema é o Proteste Já do CQC, que é um programa humorístico, mas num país onde tudo é uma piada, nada melhor que usarmos do humor para cobrarmos nossos direitos.

A culpa é nossa. Nós votamos em políticos que nos roubam, nos matam e mesmo assim estamos lá fazendo festa nos comícios, e se não votamos também não usamos de nossa capacidade intelectual para convencer nossos próximos a não votarem nos bandidos. Damos audiência ao jornalismo “ta tudo bem” que não tem coragem de expor ao ridículo aqueles que merecem. Assistimos aos problemas todos os dias e não vamos cobrar no lugar certo, só sabemos “twittar” e achamos que isso é melhor do que nada. Enfim, enquanto continuarmos engolindo tudo isso devíamos ao menos ficarmos quietos, porque ser idiota até é compreensível, mas hipócrita é difícil de agüentar.

Lanço a campanha: #desliga otwitter e faz o seu próprio protestejá.