sábado, 24 de outubro de 2009

Brasil e seus garis pós-graduados

Passando pelo site Folha Online a seguinte manchete me chamou atenção: Concurso para garis atrai 22 mestres e 45 doutores no Rio. O primeiro pensamento foi que a situação do país deve estar muito precária mesmo para chegarmos a esse ponto. Ao ler o quinto parágrafo da matéria comecei a entender melhor os números que me assustaram.

Um jovem de 23 anos, estudante de História, é um dos candidatos entrevistados. O motivo que alega para prestar o concurso é a busca por “segurança”. O cargo oferece salários de R$ 486,10 mensais, tíquete alimentação de R$ 237,90, vale-transporte e plano de saúde. A segurança a que ele se refere só poder estar atrelada ao fato da empresa não despedir por falta de produtividade, pois estabilidade financeira com pouco mais de um salário mínimo não existe. Um estudante universitário não deveria ter mais de ambição e capacidade para arrumar um emprego melhor? Supondo que ele não tenha grandes obrigações, não é esse o momento de experimentar, por assim dizer, o mercado de trabalho visionando um futuro profissional estável?

Outro candidato com 42 anos, ensino superior incompleto, desempregado há um ano, diz que precisa tomar um novo rumo na vida e voltar para a faculdade. Pretende fazer um curso preparatório para entrar na faculdade de Direito, pois quando cursava Letras não tinha emprego fixo e não conseguiu se manter na universidade. A realidade aqui já é diferente, é possível que tenha família ( a reportagem não aborda isso) e o medo por ter passado por tantos trabalhos o leve a um concurso desses. Mas, a remuneração é suficiente para bancar um cursinho e se sustentar? E o Direito, será também motivado por uma falsa promessa de sucesso?

Uma garota de 21 anos, ensino médio completo, afirma que pensou se deveria fazer inscrição para um concurso que exige apenas o ensino fundamental. Ao saber que estaria concorrendo com pessoas com níveis elevados de graduação disse: "Isto aqui é para quem não tem escolaridade. Para os outros tem mais oportunidade.” E se tem mais oportunidade então porque essas pessoas estão querendo uma vaga de gari?

A menina disse tudo, o primeiro motivo é falta de vergonha. Para começar não precisava declarar a escolaridade toda se não é necessário. Depois, alguém com diploma universitário não deveria tirar a vaga de uma pessoa que não teve a mesma oportunidade. Se não por compaixão que seja por se achar merecedor de um desafio a altura. Outro fato é que brasileiro ainda vive da ilusão do emprego público, mesmo que seja para trabalhar por um salário baixo e numa função nada desafiadora. De serviço pesado ele não tem medo, o que não quer é a cobrança de produtividade e correr o risco de ser mandado embora por não fazer algo direito. A última é a estagnação. O cidadão buscou a qualificação, contudo, no momento que deveria ter aproveitado para experimentar a prática desperdiçou, não correu atrás e com certeza arrumou uma boa desculpa pra isso.

Se, no começo os números me assustaram agora são as razões que me preocupam. Em tempos de política de cotas ponho-me a pensar quantos diplomados mais teremos como futuros garis desse país.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u641621.shtml

domingo, 26 de julho de 2009

Nasci na época errada. Cresci acreditando que “ser o melhor” naquilo que se faz nos dá o direito quase que garantido de uma boa carreira profissional e reconhecimento social. Tive exemplos disso na minha família, de um avó que estudou admistração a noite enquanto trabalhava de dia, aprendeu inglês pelo curso de banquinha da editora Globo e conseguiu virar um excelente vendedor de soja para o exterior. De outro, que como enfermeiro salvou a vida de muita gente, conseguindo muitos amigos e porque não dizer também admiradores, que foi grata a ele e o lembra com carinho até hoje. Ah hoje... Essas receitas de sucesso não funcionam mais e estão nos levando ao caminho inverso: o da exploração e da insatisfação.

Insatisfação é uma palavra que se quer conhecemos quando estamos na época em que todos perguntam o queremos ser quando crescermos. O tempo todo pensei que precisava apenas de uma mesa num escritório, meu computador e que se vez o outra fosse reconhecida pelos meus textos já seria o suficiente. Na escola era assim, havia de ser assim no futuro também. Acreditava que com o tempo e o reconhecimento a remuneração e o sucesso viriam naturalmente. Ledo engano, nem a mesa apareceu, apenas a baia.

A baia faz parte do novo conceito de trabalho do século XXI, onde se acredita que se o grupo trabalha no mesmo ambiente a capacidade produtiva aumenta. Economiza-se tempo com as indas e vindas às salas e aos escritórios, pois basta esticarmos a cabeça para esclarecer alguma dúvida com o colega ao lado ou o de trás. Começaram a ser utilizadas nas redações dos jornais e passaram a constituir o layout mais adotado das grandes companhias. Ah, as grandes companhias, outra lenda que escutei na faculdade: Trabalhar em uma empresa de grande porte aumenta a chance de crescimento profissional, e se for uma multinacional melhor ainda, pois existe a chance de ir trabalhar fora do país.

Eis o significado real do esforço, da baia e da multinacional: tudo isso foi criado para você trabalhar mais, e utilizando do trocadilho mais óbvio, trabalhar feito um cavalo. Crescemos acreditando que senso de responsabilidade, a capacidade de superação ao cumprir tarefas, seria algo valorizado, mas a verdade é que encaramos isso como rotina diária e o prêmio que recebemos é sempre o mesmo, mais trabalho. A baia facilita a comunicação e também a visão do seu chefe do que você está fazendo, enquanto que a multinacional significa que você nunca vai conseguir falar com o “chefão” para pedir uma promoção. Os elogios surgem, mas sempre vem carregados de uma frase típica: “Você fez um ótimo trabalho e por isso temos um novo desafio que com certeza você irá tirar de letra”. Nas entrelinhas: “Vamos precisar que trabalhe todo dia até mais tarde e nos finais de semana também”.

Diante desse cenário, não é de se admirar que muitos deixaram para trás a responsabilidade e o compromisso, e adotaram a lei do menor esforço. Com os valores invertidos parece não valer mais a pena seguir a receita de sucesso para dormir com a satisfação da missão cumprida, pois ao acordar você sabe que ontem será esquecido e hoje só tem mais “serviço”.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A culpa é nossa!

Quando eu digo que brasileiro merece o governo que tem, vejo caras se retorcendo em sinal de desaprovação. Pessoas que abrem suas bocas e dizem em alto e bom tom que não votaram no Presidente atual e acham que isso os livra de todo o pecado original do sistema.

Quando vejo meia dúzia de pessoas se mobilizarem em pequenos protestos, digo que elas também são culpadas pelo fracasso. Porque na hora de chamar para a balada o cara inventa mil bons motivos para convencer o amigo, mas para coisa séria acha que um convite apenas basta e não usa dos argumentos que dispõe. Toda aquela conversa via Twitter sobre sair às ruas contra o Sarney, na prática virou motivo para piada. Mas, se fosse algo envolvendo festa, música e fantasias aí sim teria batido recorde de público, tendo como o exemplo a famosa Parada do Orgulho LGBT. O negócio aqui é festa, o motivo pouco importa, o importante é a bagunça.

O brasileiro tem a comodidade tão enraizada que prefere criar uma infinidade de desculpas para justificar o adiamento das mudanças do País do que de fato fazer algo. Gostamos de apontar culpados e nada fazer para puni-los, já que a justiça é lenta, as leis são dúbias e a imunidade parlamentar existe. As CPIs comprovam isso e ainda servem como desculpa para os deputados e senadores “mostrarem” serviço. Pagamos os salários deles, sustentamos seus roubos, e apoiamos a abertura de CPIs que sabemos que não vão dar em nada, em quase nada. Eles saem de campo, candidatam-se novamente e voltam ao jogo. A imprensa dá a visibilidade que os políticos tanto querem e os jornalistas acham que estão colaborando ao transformarem os fatos em escândalos, mas a verdade é que isso é muito pouco e logo que surge outra CPI ninguém fica sabendo o que deu a anterior.

E como o jornalista faz parte de um povo privilegiado por ter acesso aos meios de comunicação, tem uma parcela de culpa maior ainda. Vivem na terra da fantasia da imparcialidade e com isso fazem do jornalismo aquela mesmice, que não ajuda ninguém a formar opinião alguma, e ainda serve de holofote para a cobertura de algum super projeto que já deveria ter sido concluído há muito tempo. O único quadro jornalístico que de fato incomoda e procura resolver algum problema é o Proteste Já do CQC, que é um programa humorístico, mas num país onde tudo é uma piada, nada melhor que usarmos do humor para cobrarmos nossos direitos.

A culpa é nossa. Nós votamos em políticos que nos roubam, nos matam e mesmo assim estamos lá fazendo festa nos comícios, e se não votamos também não usamos de nossa capacidade intelectual para convencer nossos próximos a não votarem nos bandidos. Damos audiência ao jornalismo “ta tudo bem” que não tem coragem de expor ao ridículo aqueles que merecem. Assistimos aos problemas todos os dias e não vamos cobrar no lugar certo, só sabemos “twittar” e achamos que isso é melhor do que nada. Enfim, enquanto continuarmos engolindo tudo isso devíamos ao menos ficarmos quietos, porque ser idiota até é compreensível, mas hipócrita é difícil de agüentar.

Lanço a campanha: #desliga otwitter e faz o seu próprio protestejá.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

As mulheres não chegam lá.

Aprendemos a abrir vidros hermeticamente fechados, pagamos a conta do encontro, criamos filhos sozinhas e já podemos faze-los sozinhas. Entramos para academia, ganhamos mais músculos e trocamos pneu. Compramos vibradores, aderimos a masturbação e algumas ao lesbianismo. Enchemos a boca para dizer que fazemos tudo que um homem faz e com salto alto. Contudo, porque, afinal de contas, as mulheres ainda não dominaram o mundo?


Muitos homens vão atribuir o nosso fracasso a 3 letras: TPM. Ficamos irritadas demais, manhosas demais, exageradas demais. Brigamos com a sombra, com o cachorro do vizinho e discutimos a relação atual ou a passada e nunca chegamos a conclusão alguma. Mas, mesmo essa fase que só pode ser castigo que pagamos por causa da Eva, já é superada por muitas mulheres.


Apesar de superada a TPM muitos alegam que somos emocionais demais. Passamos a mão na cabeça dos filhos, não sabemos fazer sexo sem amor e choramos no último capítulo da novela ou no episódio final da temporada do seriado água com açúcar. Compramos roupas, sapatos e chocolates porque estamos tristes ou porque estamos felizes ou simplesmente porque estamos vivas. Mais uma vez esse estereotipo já foi detonado por muitas que preferem assistir Two and a half Men e bem como Charlie preferem cuidar dos sobrinhos e transar com um homem diferente por noite. Gostam de comprar peças novas para o carro ao invés de sapatos, roupas e chocolates.


Ganhamos o mercado de trabalho, somos maioria nas universidades, fazemos jornada tripla e como é que não chegamos lá ainda? Simples, porque odiamos umas as outras. Mulheres não conseguem trabalhar como aliadas, porque como na história do sapo e o escorpião parece que é de nossa natureza não conseguir conviver numa boa com outra da mesmo sexo. Quando não estamos competindo no trabalho estamos na balada, para ver que consegue chamar mais atenção dos homens ou quem pega mais homens. Puxamos o tapete, o cabelo, tiramos sarro da roupa, do cabelo, do bigode, de tudo. Usamos a arma mais baixa possível, a fofoca, e com isso acabamos com a reputação de qualquer uma. Não perdoamos nada e apenas nos ferimos e assim perdemos as lideranças, a auto estima e oportunidade de nos fortalecermos e vivermos a favor uma das outras.


Se as mocinhas conseguissem ser mais amáveis, companheiras e sinceras umas com as outras cresceríamos como espécie e deixaríamos de ser o Pink e o Cérebro da história da humanidade e de fato conseguiríamos direitos iguais. Mas, para isso precisamos aprender com os odiados e amados homens o significado da palavra parceria, pois por mais hipócrita e anti ético que pareça eles nos dominaram porque se uniram e nós nem aprendemos a copiar a receita direito.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dia dos Namorados, data tão prezada pelo comércio e pelos carentes bem que poderia ter nome substituído por Dia dos Hipócritas ou Dia dos Otários.

Hipócritas porque às vezes o namoro está mais afundado que o submarino francês que está atrás dos destroços do Airbus, mas no dia 12 de junho eles acham que tudo pode ser/estar perfeito.
É uma data que a pessoa pensa que ainda dá tempo de salvar um relacionamento totalmente falido, por causa daquele sentimento coletivo de “Love is in the air” criado pela mercado de porcarias românticas que fatura horrores nessa data. O Valentines Day está para os namoros falidos assim como o Ano Novo está para os depressivos, que acham que o simples andar dos ponteiros do relógio pode mudar magicamente sua vida.

São 24 horas de pura tortura para os solteiros hipócritas, que pensam serem os mais infelizes e sofridos por não terem seu parceiro nessa dia. Passam o ano todo se vangloriando pela solteirice e quando chega a véspera do santo casamenteiro se vêem com aquela melancolia e chegam a se sentirem culpados por continuarem singulares no mundo. Muitos, recorrem a absoluta estúpida opção de ligar para o ex namorado e verificar a disponibilidade para não ficarem sozinhos.
Sorte do cara ou da mulher que estiverem afim de transar naquele dia e estão sem muita opção. Mas nada de pensar no motel, pois essa é a parte do Dia dos Otários.

Um restaurante que normalmente cobraria por pessoa 35 reais por um rodízio de fondue, nessa romântica data tem a coragem de cobrar audaciosos 130 reais, sem bebidas inclusas, para o casal de pombinhos.
Aquela caneca cafona escrita Melhor Namorado do Mundo que custava 1,99 na Casa China mais próxima chega a custar 1000% a mais. Para melhorar, se por um acaso você quer ir ao motel, que por sinal não aceita reserva para o tal dia, chega a fazer período de 2 horas por R$ 150 reais, enquanto que em dias normais você pagaria a metade do preço por 12 horas. O melhor é que você pode começar as preliminares na fila, pois para conseguir uma suíte provavelmente passara 4 horas por lá. E, convenhamos, fila de motel é a coisa mais anti romântica na qual alguém pode se encontrar.

Eu diria que diante de tantos percalços a única saída para não sofrer no dia 12 é ser amante. Afinal, não precisará sair de casa, nem comprar presente e muito menos se sentir rejeitado e recorrer aos ex da vida, já que a seu encontro pode estar muito bem garantido para o dia 13, enquanto que todas as namoradas estão finalizando suas novenas para o Santo Casamenteiro.